História de um Àsé

        Ìlè Àsé Òpò Àfònjá

 

 

 

Falando da iniciação da senhora Paula de Osùn, exercendo assim um mistério de iniciadora, a partir deste fato OBATOSI, passou a chamar a filha um tanto seria, meio que brincando, advertência da mãe.   Aninha leva tudo isto por conta da amizade devotada pela mãe de santo, Senhora, dizia que Aninha se  prepara, e se  acostuma a ser chamada de mãe, a vida mostraria a Aninha toda a sabedoria de OBATOSI, novamente são consultados os oráculos após a morte de mãe Marcelina, como nova Iya, foi apartada Maria Julia Figueiredo, Osùn Ominiké, era o tempo das águas ao ser proferido o nome, deu-se a guerra, muitos apoiavam a decisões dos orisa, outros não, queriam outra Maria Julia, mulher de muita força, extrema personalidade, Maria Julia Conceição Nazareth, este grupo dissidente composto de simpatizantes, irmãos de santo, puxaram o Asé Iya Nasso Oka, vindo a fundar então o candomblé do Cantois, o tempo girava, girava, passa correndo, Aninha estava junto a mãe de santo, participando dos rituais secretos, dos awos, enfim, adquirindo assim maturidade, sabedoria e, segurança.    Osùn Ominiké, partiu para a eternidade, sucedendo então mãe ZUZU, auxiliada pela experiência de OBÁ BIYI,  deu seguimentos ao Asé, no entanto, além de cuidar e dedicar-se a religião de seus ancestrais, Aninha era conhecida como boa comerciante, possuía uma quitanda onde vendia com bastante sucesso produtos africanos, e tudo que fosse necessário a ritualística, dos resultados de seus negócios podia oferecer a Sango o melhor possível, tecidos, oferendas, e tudo que necessário fosse.  O tempo corre inexorável, e leva desta vida Mãe ZUZU, estabelecia-se então o jogo da sucessão. Estes dados foram recolhidos por conversa tida por meu Avo de Santo Sr. JOAQUIM MOTTA, In memórian, com os mais velhos como sua Mãe de Santo Sra. Agripina, Mãe Ondina Pimentel, Mãezinha, que foi uma das Iyalorisa do Opo Afonja, com Mãe Kantulina, dados recolhido de Mãe Stella e seus escritos, daqueles que como meu Avó ouviram e viveram parte da historia e repassado a nós filhos e netos.

Os primeiros tempos da nova vida foram passados no bairro do Camarão, em casa de Tio Joaquim, amigo de Mãe Aninha, com forte ligação espiritual, acontece que Sango queria o seu próprio espaço, foi então que obediente a filha do Rei, comprou uma roça no bairro de Amaralina, à Rua Santa Cruz, eram tempos difíceis aqueles, apesar da necessidade de sobrevivência e fé, havia total ausência de recursos, tudo muito difícil, transporte, água, condições básicas de vida, se chovia um pouco era lama por todo o lado, quem podia um pouco tinha que procurar residência em local de mais fácil acesso, apesar de possuir aquelas terras, Mãe Aninha tinha que residir na cidade à Rua dos Capitães, que ficava próximo a barraca do mercado Modelo, responsável por seu sustento e de tantas outras pessoas que haviam em seu redor. E, ali na Rua dos Capitães, deu-se a iniciação de algumas pessoas como por exemplo:    Senhora Rosalina de Osaala, em 1903, residente à Rua Conagito, Oba Biyi, fez santo de Zalú de Aira, Maria das Dores de Osoosi em 1907, mudou-se para uma casa na ladeira da praça, onde iniciou Maria Bebiana do Espírito Santo, Osùn Miwa.    A Iyalorisa pensava, refletia sobre a religião, em sua gente, seu destino afinal os seus Pais eram Africanos Gruncys, a Iyalorisa fora iniciada por Nagôs, sendo do culto Yoruba, o dono de sua cabeça, no entanto, por dever de princípios deveria da continuidade por compromissos de filiação ao culto Gruncy, tal qual Aniwó, e a Azambriwó.    Indicou então em São Gonçalo um espaço para louvar as entidades ancestres, construiu uma casa Iya, orisa das águas, uma casa muito bonita, serena, e o centro desta casa no seu interior havia uma fonte, local de rara beleza e força, mas, nem todos tinham acesso a este local, além de Iya outros orisa Gruncy, tinham seus altares sagrados neste mesmo espaço.

 Anteriormente falamos da formação do Asé Opo Afonjá, da formação na Roça de São Gonçalo do Retiro, do espaço culto dos Orisa Guncys, a casa de Iya onde se cultua os orisa ancestres da famosa Iyalorisa, em louvor aos orisa de Aniwó e Azambriwó, da ligação de Aninha com Martiniano Elizeu Bonfim.   Martiniano por determinações dos seus pais residiu muito tempo na Nigéria, foi para lá aos 14 anos de idade, e regressou perto dos seus 30 anos de idade mais ou menos, foi juntamente com este conhecedor profundo que Iya Oba Biyi, recriou no Opo Afonja o culto de Sango nos moldes originários de ÒYÒ, assim introduziram o corpo dos 12 Obás, os ministros dos reis, que tem o poder de condenações e absolvições, bem como, os julgamentos de varias questões a eles levadas, tinham os direitos e poderes de decisões sobre a parte segura do candomblé.      Aninha tinha orgulho e muito orgulho de possuir estes ministros, as vezes ela dizia, Obas existem em Òyò e no Asé Opo Afonjá, e a eles todos os ritos eram cumpridos.   Na casa de Iya cada orisa tinha seu espaço próprio para seus ritos, recriando em São Gonçalo do Retiro, a replica de regiões Africanas.    A casa de Sango é claro tinha um lugar de destaque, depois vinha a casa grande , a casa de Osaala, a casa de Omolu foi feita em um circulo coberta de Sape, e dentro do mato foi construído o Ile de Ode, a casa do caçador, rodeado de nativo era a casa de Ogùn, as Iyabás eram cultuadas na casa grande, Osùn porém, recebeu o espaço próprio de seu ritual diferenciado.    Mãe Aninha somou os conhecimentos do Asé Iya Nasso Oka, Engenho Velho, a sua capacidade de aprendizado e pesquisa de busca as próprias raízes.      Dia 29 de Junho de 1912, o Asé estava em festa, gente chegando de todas as partes queriam serem abençoados pela Iyalorisa beijam-lhe as mãos, Aninha não era de muita conversa, e naquele dia, mais reticente ainda estava, ordenou que Senhora de Osùn, de nome Fortunata, remove-se os assentamentos e os escondessem no mato, elas se entre olharam mas, o que fazer, ordem são ordem, começou então a festa, o homenageado já havia chegado, ouvia-se então um trotar de cavalos, era a policia que a mando do homem, deveria acabar com aquela manifestações de Negros, coisas de gente ignorantes, Sango dançava tranqüilamente no meio da dança, determinado a fazer cumprir o seu poder, chamou um dos Ogã e pediu que este lhe trouxesse 3 carretéis de linhas sendo 1 preto, 1 branco, e 1 outro vermelho, entoando cânticos desconhecidos, desenrolou os carretéis um a um, o trotar se fazia mais forte, sentia-se o cheiro dos cavalos, as filhas de santo entraram em pânico, pensavam no pior, saias rasgadas, atabaques furados, surra dos policiais, fato que já tinha ouvido contar, aconteceu então o Awo, a magia, o encanto, os saldados se embrearam no mato e perdidos e atônitos não conseguiram chegar ate o barracão, a festa continuava com muita alegria, muita dança, cânticos, e aluwa, no dia seguinte ao saber do ocorrido Mãe Aninha explicou que tivera a idéia de tirar os assentamentos levando para as moitas que houvesse profanações, percebia no entanto, que fora precipitada, nada aconteceu, e sorrindo lembrava que a pau que trança pau, ria mais ainda imaginando a raiva do senhor Pedrito.  Bom o asé se desenvolvia de acordo com a vontade do Rei, e Iya Oba Biyi, impunha forte personalidade a este Asé.  Para uma mulher de grande sabedoria naquela época, o pessoal do candomblé mantinham fortes relações de amizades e intimidades com a Igreja Católica, Mãe Aninha não era exceção a Iyalorisa pertenceu ativamente ao quardo de varias irmandades tendo sido priora da irmandade de N.S.da Boa Morte, foi uma das prioneiras da festa da lavagem do Bonfim, naquele tempo lavavasse a Igreja por dentro e por fora, vestida toda de branco e acompanhada pelas filhas de santo, subia a colina e com água, perfumes e flores, ela mesma varria e lavava a Igreja, devido ser este um previlegio.  

 Um dia Padre José, um amigo, fez-lhe uma visita, e desgostoso passou disertar sobre a vida religiosa, ingratidões, solidões, carências, então Mãe Aninha demostrando compreenção com a pessoa amiga, que ela mesma sofria dos mesmos problemas, dizia é o sacerdócio, nem tudo são flores, o Padre disfarçadamente escondeu o sorriso com as mãos, mas os olhos lhe traíram ele não considerava de fato a Iyalorisa como uma sacerdotiza, apesar da amizade, e respeito, e dizia, eu sei que contribuiu como boa cristã, e para varias obras caritativas, mas, pelo o amor de Deus, não blasveme, o sacerdócio tem que ser abençoado e ordenado pelo Santo Papa, para que tenha autoridade espiritualo e possa ser chamado de sacerdote, caso contrario é considerado um sacrilégio.    Mãe Aninha não discutiu com o amigo, limitou-se a sorrir, como quer dizer que o amigo, cometerá uma traquinagem, perguntou-lhe então mansa e tranqüilamente, Padre José, Moises chefe de todo um povo, grande profeta, fora por um acaso ordenado pelo santo Papa, após pequena palsa Padre José quase se engasgou com a gostosa gargalhada, estava embasbacado com a astúcia, lucidez, e sabedoria de Mãe Aninha, minha vó Aninha fala francês, minha vó Aninha fala francês, dizia o menino Antonio, posteriormente Kankafò, anunciava para a roça inteira sua espetacular descoberta, pois é foi presenciada na Casa de Sango, sai avó Aninha usando vestido elegante, e sapatos de saltos, com as pernas cruzadas conversando com um grupo de Padres Belgas em missões pela Bahia, e isto correu a roça inteira, muitos intelectuais tornaram-se amigos de Sianinha, Edson Carneiro, Jorge Amado, todo seu carisma, vários politicosds freqüentavam o Asé, a exemplo do próprio governador da Bahia, preocupava-se muito com a liberdade de culto, sua repressão, a exemplo com que já ocorrerá consigo, uma prova disto, foi a viagem que fez ao Rio para estar com Getulio Vargas, para que houvesse liberdade para o culto e pratica do candomblé.   A viagem obteve êxito, tendo em vista um decreto no sentido da liberdade da religião, pois é estas eram características de minha Bisavó Aninha, segundo relato de meu Avô Joaquim Mota.

 

 

Relato de Joaquim Motta – in memorian – acervo para seus filhos e netos de santo.